Vamos falar sobre um dos maiores problemas enfrentados por empresas de engenharia industrial hoje: a escassez de mão de obra qualificada. A situação é dramática, e quem está no mercado sabe que preencher vagas técnicas e estratégicas para projetos industriais virou um desafio digno de malabaristas. E, olha, não é só uma questão de encontrar gente disponível, mas de encontrar as pessoas certas, com as habilidades corretas, que consigam acompanhar a velocidade alucinante das mudanças tecnológicas e do crescimento das fábricas. Mas calma, isso não é o fim do mundo (ou do seu projeto). Existem caminhos, e eu vou mostrar que, mesmo em meio ao caos, há como driblar essa escassez.
Antes de mais nada, vamos encarar o elefante na sala. Todo mundo sabe que a força de trabalho está envelhecendo. Não há como fugir disso. Os engenheiros que foram formados nas décadas de 70 e 80 já estão pendurando suas “pranchetas e lapiseiras”, deixando um vácuo enorme de conhecimento prático. O pior? Não estamos conseguindo repor esses talentos na mesma velocidade com que eles se aposentam. Parece surreal, mas é isso: tem mais gente saindo do que entrando no mercado. E os que estão entrando? Bom, esses muitas vezes não têm a experiência necessária para tocar projetos de grande porte. É como se a engenharia estivesse em um jogo de xadrez em que as peças mais valiosas estão sendo tiradas do tabuleiro e as novas ainda não sabem bem como se mover.
Agora, se você acha que o problema é só o envelhecimento da mão de obra, sinto informar: você está sendo ingênuo. A formação técnica no Brasil – e no mundo, em vários casos – está aquém das necessidades do mercado. A verdade é que muitos cursos de engenharia não acompanham o ritmo das mudanças tecnológicas. Sai uma turma formada, mas ela não está pronta para a prática do mundo real. A indústria mudou muito, e rápido. A digitalização, automação, robótica, BIM, machine learning, inteligência artificial… Está tudo aí, e quem não souber lidar com isso vai ficar para trás. É por isso que, mesmo com jovens formados saindo das universidades, muitas empresas não conseguem aproveitá-los de imediato. Você pode até ter um diploma em engenharia, mas será que está realmente preparado para a engenharia de hoje?
Essa escassez de mão de obra em projetos industriais não poderia vir em pior momento. As novas fábricas estão sendo pensadas para ser cada vez maiores em suas capacidades de produção. Cada projeto lançado bate o recorde de capacidade de produção do projeto anterior, e isso requer algo que vai além de simples expertise técnica. Essas operações monumentais exigem equipes de engenharia de processos e de design experientes, capazes de colocar em pé toda essa potência produtiva. E a pergunta que fica é: como fazer isso quando o mercado de profissionais qualificados está cada vez mais restrito?
Estes três fatores – envelhecimento de mão de obra, formação acadêmica e técnica deficitária e projetos cada vez maiores e mais complexos – são na nossa opinião os causadores da escassez de mão de obra na engenharia industrial. (Se você sabe de mais algum, por favor escreva nos comentários).
Esse descompasso entre o que o mercado de engenharia precisa e o há de mão de obra disponível está gerando um verdadeiro nó no setor industrial. Mas se a escassez de engenheiros e projetistas é uma realidade, como é que as empresas podem continuar competitivas? Bom, quem se adaptou vai sobreviver. E quem ainda não se mexeu? Vai precisar correr.
Eu não estou falando que nós aqui vamos resolver todo problema conjuntural da engenharia, longe disso. Nós sozinhos não temos essa capacidade e talvez nem disposição para isso tudo. Mas existem ações práticas e totalmente factíveis que os Gestores de Engenharias de qualquer porte podem fazer e, com isso, começar a resolver os principais gargalos. Não se trata de mudar o mundo da noite para o dia, mas de tomar atitudes inteligentes e ágeis que vão, sim, fazer a diferença. Não dá para esperar o mercado se ajustar por conta própria. Você tem que tomar as rédeas.
A primeira atitude a ser tomada é contra-atacar com produtividade adotando as tecnologias disponíveis para acelerar projetos industriais sem preconceito. Vamos encarar a realidade: se você ainda está resistindo às novas tecnologias, procurando defeitos no que já está sendo massivamente utilizado pelo mercado, você está se sabotando. Aqui eu vou detalhar algumas tecnologias que você deveria estar utilizando sem pensar duas vezes – para você resolver essa questão o mais rápido possível:
A utilização de escaneamento a laser, fotogrametria terrestre e drones tem transformado a maneira como projetos industriais são conduzidos, permitindo uma aceleração significativa do processo sem comprometer a precisão. Essas tecnologias capturam dados com extrema acurácia em muito menos tempo, fornecendo modelos digitais completos e detalhados. Existem casos comprovados em que o uso dessas ferramentas reduziu as horas de engenharia em até 60%, o que reflete diretamente no aproveitamento do seu recurso mais escasso: os engenheiros e projetistas. Com essa redução drástica no tempo gasto em levantamentos de campo e tarefas operacionais, eles podem se concentrar no que realmente importa – layouts mais criativos, soluções práticas e na otimização dos projetos – enquanto a tecnologia faz o trabalho pesado. Isso não é só eficiência; é uma questão de sobrevivência competitiva.
Migração completa para o BIM. Ponto final. Eu não vou gastar um parágrafo longo pra te convencer disso aqui, pois é uma vergonha saber que ainda há empresas com etapas e especialidades de engenharia sendo feitas por completo em 2D. Se você faz parte deste time, convença-se sozinho e resolva isso agora.
A segunda atitude que não podemos ignorar e que que está sendo subaproveitada: desenvolver parcerias com universidades. Muitos empresários e gestores veem a academia como algo distante e pouco prático. Grande erro. Ao formar parcerias com universidades e institutos de pesquisa, você tem a oportunidade de moldar futuros profissionais de acordo com as necessidades específicas do mercado. Programas de estágio e trainee são a ponte entre a teoria e a prática. E, veja bem, é muito mais barato e eficiente formar um projetista ou desenhista em suas ferramentas e processos do que passar meses procurando alguém no mercado que tenha exatamente o perfil que você precisa.
Agora, vamos falar sério: não dá para resolver essa crise só com remendos. Uma empresa que quer realmente superar a escassez de recursos precisa pensar em médio e longo prazo. Isso significa investir pesado na capacitação contínua da sua equipe. A questão é simples: se você não atualiza seu pessoal, ele vai ficar obsoleto. Ofereça treinamentos em novas tecnologias, estimule o aprendizado de ferramentas como automação, simulação, análise de dados e inteligência artificial, machine learning. Hoje em dia, não basta ser um engenheiro com conhecimento técnico: é preciso ser um engenheiro atualizado e com capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças.
Não adianta esperar que os engenheiros e projetistas que você contratou há cinco ou dez anos consigam acompanhar o ritmo das novas tecnologias por conta própria. Sua equipe precisa estar preparada para trabalhar dentro dos novos padrões que o mercado exige. E, mais do que isso, precisa entender que os desafios de hoje são completamente diferentes do que enfrentávamos há alguns anos. O mundo mudou, e a maneira como você toca seus projetos precisa mudar também.
Outro ponto que merece atenção é o uso de engenheiros freelancers ou temporários. Em muitos casos, os projetos têm prazos apertados e demandas específicas. Por que não contratar consultores, engenheiros ou projetistas temporários para cobrir essas lacunas? Não é uma solução definitiva, eu sei, mas pode ser o suficiente para atravessar períodos de maior demanda sem comprometer a qualidade ou os prazos dos projetos. E mais: estamos em uma era onde o trabalho remoto e flexível se tornaram realidade, por isso, explorar o talento de engenheiros espalhados pelo mundo através de plataformas digitais é um recurso que não deve ser ignorado. Seu próximo engenheiro pode estar em outro continente e, com a tecnologia disponível, isso não faz a menor diferença.
Se o mercado local está saturado, por que não expandir suas buscas para o exterior? Engenheiros, projetistas e desenhistas de outros países podem trazer uma perspectiva nova para o seu projeto. E, com as tecnologias atuais, muitos deles podem trabalhar remotamente, sem que você precise investir em realocação. Plataformas de recrutamento global já estão conectando empresas a profissionais em todo o mundo. Não importa se o desenhista está na Índia ou se o projetista está no México; com as ferramentas certas, eles podem contribuir para o sucesso do seu projeto como se estivessem na sala ao lado.
No fim das contas, a escassez de mão de obra qualificada na engenharia de projetos industriais é um problema real, mas não intransponível. Ele só exige uma abordagem inteligente, uma combinação de soluções de curto, médio e longo prazo, e um compromisso com a inovação. Quem souber navegar por esse cenário, quem conseguir adaptar-se às mudanças tecnológicas e quem investir nas pessoas certas vai sobreviver. E quem não fizer isso? Bom, vai continuar lamentando as oportunidades perdidas.